Pesquisa pretende testar em humanos o uso de líquido amniótico como terapia para a doença
Estimativas apontam que de 10% a 15% da população mundial sofre com a doença ocular crônica conhecida como síndrome do olho seco. Caracterizada pela diminuição da produção da lágrima ou deficiência de seus componentes, o distúrbio no filme lacrimal e na superfície ocular pode produzir áreas secas sobre a conjuntiva e a córnea, capazes de gerar lesões.
Os sintomas são desde o ardor, irritação, sensação de areia nos olhos, até a dificuldade para ficar em lugares com ar condicionado ou em frente ao computador. Existem várias causas do olho seco: o ambiente, queimaduras químicas, medicamentos, lentes de contato, idade avançada e em mulheres após a menopausa. Pode estar associada com doenças sistêmicas ou imunológicas como síndrome de Sjögren – em que o sistema imunológico do paciente ataca as glândulas produtoras de lágrimas e saliva – síndrome de Steven-Johnson, Parkinson entre outras. “Pacientes que tem paralisia facial e não conseguem piscar com freqüência ou a falta de higiene da margem das pálpebras, que desestabiliza a camada mais externa do filme lacrimal e faz a lágrima evaporar muito mais rápido”, explica o oftalmologista Guilherme Quinto que desenvolveu uma pesquisa junto ao Wilmer Eye Institute (Johns Hopkins University, Baltimore/EUA) sobre os efeitos do líquido amniótico e soro humano como terapia para síndrome do olho seco. A proposta é buscar opções mais expressivas para tratar o problema.
Tratamentos
“Casos avançados da síndrome podem causar cegueira. A maior parte, 80% das vezes, resolvemos com lágrima artificial (colírio lubrificante)”, comenta o oftalmologista. Este tratamento é o convencional, seguido da oclusão dos pontos lacrimais que possibilita que a lágrima fique nos olhos por mais tempo e não escoem para o nariz.
De acordo com Quinto, existem também drogas promissoras, antiinflamatórias. “Sua utilização é crônica e o efeito é sentido em seis semanas”. Outra alternativa é a terapia com soro autólogo, proveniente do sangue do paciente, que é centrifugado, separado e empregado sob forma de colírio.
A pesquisa do oftalmologista iniciou em 2007 e analisou os resultados no tratamento da síndrome com o soro humano e com a nova prática, o uso de líquido amniótico humano. “Percebeu-se que quando eram feitas cirurgias intra-uterinas, mais próximas da data do nascimento, as crianças nasciam sem cicatrizes na pele”, diz. Segundo ele, a membrana amniótica, por apresentar propriedades antiinflamatórias e regenerativas, tem sido aplicada em queimaduras oculares e doenças que causam inflamação nos olhos. Os problemas são diminuídos e as chances do paciente não perder completamente a visão são grandes. “A partir disso surgiu a ideia de usar de forma tópica”, comenta.
A pesquisa foi testada primeiramente em camundongos e o próximo passo do médico é avançar as pesquisas em humanos, aplicação inédita no Brasil, que será desenvolvida durante seu curso de pós-graduação em nível doutorado na Universidade de São Paulo (Unifesp). A proposta do pesquisador é buscar novas soluções no tratamento tão comum em vários países do mundo, mas ele ressalta que o mais importante é prevenir, nos casos possíveis, cuidando da higiene dos olhos.
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